O cancro de pele é o mais frequente de todos os cancros. A principal causa do cancro de pele é o sol. Este pode exercer o seu efeito sobre a pele de duas formas:
- Ao longo de toda a vida, sendo que esta exposição crónica e mantida durante anos condiciona o aparecimento já em idade tardia de um tipo específico de neoplasia designada de basalioma. As profissões que tem maior probabilidade de desenvolverem este tipo de patologia são aquelas com grande exposição solar, designadamente os agricultores, pescadores e operários da construção civil. Outro tipo de tumor, mais agressivo, que pode estar relacionado com esta forma de exposição solar é o carcinoma espino-celular.
- A exposição ao sol de forma intensa, embora ocasional, que provoca queimadura solar, com vermelhidão e ardor, é responsável pelo aparecimento de outro tipo de cancro designado melanoma. O melanoma surge portanto nos indivíduos que costumam apanhar “escaldões” quando vão para a praia. É um tumor extremamente agressivo e pode matar se não for detectado numa forma inicial. Pode surgir em pele sã ou sobre sinais de nascença ou outros sinais escuros que apareçam na adolescência ou mesmo na idade adulta.
BASALIOMA
O basalioma aparece como um pequeno nódulo do tamanho de um bago de arroz, na cabeça, pescoço ou mãos (Fig.1), áreas habitualmente expostas á radiação solar. Trata-se do tumor mais frequente, atingindo sobretudo as pessoas de pele clara e olhos claros, com mais de 40 anos de idade. Desenvolve-se lentamente formando, numa fase já tardia, uma crosta ou ocasionando hemorragia.
Embora este cancro não se dissemine pelo restante organismo, processo denominado metastização, invade as estruturas subjacentes, podendo atingir o osso (Fig.2). Quando localizado junto de estruturas anatómicas nobres, como por exemplo o globo ocular, pode condicionar prejuízos funcionais importantes, neste caso condicionando cegueira.
O diagnóstico é fácil, sendo o seu tratamento, quando detectado numa fase inicial, simples. Pode ser excisado sob anestesia local ou destruído pelo frio – método designado criocirurgia – ou pelo calor através da electrocirurgia ou do Laser.
Os doentes que tiveram um basalioma tem maior predisposição para o desenvolvimento de uma nova neoplasia, pelo que devem ser controlados periodicamente.
CARCINOMA ESPINO-CELULAR
O carcinoma espino-celular (CEC) aparece sobre a forma de um nódulo ou de uma mancha vermelha com descamação, afectando sobretudo pessoas na 5ª década de vida (Fig. 3).
Trata-se do segundo tipo de cancro de pele mais frequente, afectando novamente indivíduos de pele clara com história de exposição ao sol, aos alcatroes ou a produtos contendo arsénio.
Surge habitualmente nas orelhas, face, lábios e boca, e pode dar origem rapidamente a grandes tumores. Se não for tratado no seu inicio pode metastizar. Por outro lado, quando o tratamento é realizado de uma forma precoce a probabilidade de cura é de 95%.
Além do efeito do sol, a existência de lesões ditas pré-cancerosas – queratoses actínicas (Fig.4) – é de especial importância pois estas se não forem submetidas a tratamento originam tumores invasivos.
As queratoses actínicas são vistas usualmente como lesões múltiplas, em áreas expostas ao sol, em pessoas de meia-idade sobretudo as de pele clara. Excessiva exposição à luz solar ao longo de muitos anos e protecção inadequada constituem os factores predisponentes essenciais. As queratoses actínicas são vistas mais frequentemente na face e dorso das mãos bem como nas áreas calvas do couro cabeludo em homens
Outra lesão pré-cancerosa é a queilíte actínica, que se manifesta pelo aparecimento de forma mantida de gretas ou fissuras dos lábios, por vezes recobertas de crostas (Fig.5). A queratose actínica e a queilíte actínica podem transformar-se em CEC, mas a incidência desta transformação é difícil de se determinar, pois a linha de fronteira entre as diferentes entidades não é nítida.
O tratamento do carcinoma espino-celular é semelhante ao do basalioma, embora as cicatrizes das cirurgias sejam habitualmente maiores, pois a excisão do tumor faz-se envolvendo uma maior margem de segurança.
Quanto ás lesões pré-cancerosas, são de fácil tratamento optando-se principalmente pela criocirurgia ou pelo Laser.
O seguimento dos doentes com carcinoma espino-celular deve ser rigoroso, devido ao potencial metastizante da neoplasia, obrigando a consultas de rotina com uma maior periodicidade.
MELANOMA MALIGNO
O melanoma maligno é o mais mortal de todos os tumores de pele, aparecendo nos indivíduos entre os 30 e os 50 anos de idade.
Pode aparecer sem qualquer sinal de aviso numa pele em tudo normal ou instalar-se sobre um sinal de longa duração.
O melanoma origina-se nos melanócitos, que são as células que produzem a melanina, substância que dá a cor á pele. Deste modo, o tumor é habitualmente escuro: preto, castanho ou constituído por várias cores simultaneamente (Fig. 6).
As queimaduras solares na infância são o principal factor de risco para se vir a ter um melanoma.
No entanto, existe um certo grau de hereditariedade, principalmente se na família existe alguém que teve um melanoma ou quando os seus sinais apresentam muitas alterações (Fig.7). As alterações dos sinais que constituem um alerta para a necessidade de consultar o médico dermatologista são:
- Assimetria: o sinal é não é simétrico;
- Bordo irregular: a periferia do sinal não é bem delimitada;
- Cores diferentes: existe mistura de várias cores nomeadamente castanhos, preto e mesmo branco e vermelho;
- Diâmetro superior a 7 mm;
- Elevação: o sinal apresenta relevo quando se passa com o dedo por cima.
O tratamento do melanoma de forma eficaz só é possível quando o tumor é detectado logo no inicio. Obriga normalmente a intervenções cirúrgicas complexas sob anestesia geral, dando origem a cicatrizes grandes. Quando o tumor já se encontra disseminado a probabilidade de cura é praticamente inexistente.
Desta forma a prevenção é o passo mais importante para que qualquer um destes cancros possa ser evitado.
A principal medida preventiva é a evicção solar. Deve-se evitar a exposição solar entre as 11.00 H e as 16.00 H, quando as radiações são mais intensas. O vestuário deve ser apropriado cobrindo bem a superfície corporal e recomenda-se o uso de chapéu de aba larga.
A aplicação de protectores solares deve ser feita de acordo com o tipo de pele de cada indivíduo e consequentemente após recomendação do médico dermatologista. As crianças devem também ser protegidas do sol pois calcula-se que 80% da radiação solar é contraída antes dos 18 anos de idade. As crianças com menos de 6 meses não devem ser expostas ao sol.
A maneira mais fácil de descobrir alterações da pele é realizar auto-exames periódicos em casa. Esta é a forma mais eficaz de nos familiarizarmos com os nossos sinais e mais facilmente reconhecermos a mudança num deles ou o surgimento de um novo.
César Martins
Assistente Hospitalar Graduado de Dermatologia